Em Flagrante

Quarta-feira, hora melancólica das cinco e meia, quando chove. Choveu úmido e frio na tarde antes sufocante de novembro. Ela caminhava na direção do metrô, os sapatos molhados. Pelo menos o metrô lhe parecia um progresso no meio dos tempos decadentes. Dava-lhe a sensação de estar em outro país. A decadência em torno a assustava. Nova vida, novo dia. Mariana acordou e saiu de casa sem rumo. Não me pergunte de Victor. Sumiu.
Sábado, dia de festa. Onde tudo começou. Enquanto se arrumava, Mariana pensava nele, somente nele. Victor, ocupador de seus pensamentos, razão de seu viver, amor bonito e secreto, quase impossível, mas maravilhoso. Mariana era linda, olhos cor de mel, boca de boneca, e cabelos negros, que se ressaltavam ao seu tom de pele quase pálido. Era impossível deixar aquela criatura mais linda. Mesmo assim era maquiagem pra lá, rímel pra cá. Hoje prometia ser a melhor noite de Mariana.
Victor era seu melhor amigo, loiro, dono de olhos verdes, alto e forte. Os dois eram amigos desde pequenos. E Mari sempre gostou dele. Seu amor não parava de crescer... Mas ela não podia dizer nada, era sua amizade que estava em jogo.. Só que como dizia, essa noite prometia ser a melhor. Mari diria a Vi o que sentia. Com medo. Mas confiante, e disposta a correr riscos.
Se admirando no espelho, Mari esperava às oito da noite, quando Vi chegaria, e iriam juntos a uma festa fantasia. Não que isso importasse, Mari só precisava vê-lo, e contar logo o que à engasgava. Oito horas em ponto Vi estava na porta de sua casa. Ela correu e entrou no taxi.
– Oi Vi! -disse ela.
Ele não respondeu, ela insistiu:– Vi? Ta tudo bem?
– Mari, eu não aguento mais, preciso te contar uma coisa... Eu... Eu...
– "Eu" o que Victor? -falou assustada.
– Eu te amo Mariana, até mais do que eu imaginava poder amar alguém.
Mari ficou sem reação, sem palavra, sem ar, sem nada.
– Não deveria ter dito nada não é? -Vi se precipitou.
– Não... muito pelo contrário, isso era tudo o que eu precisava ouvir de você. Eu também te amo, e venho amando a muito tempo, mas não disse por medo de não ser o mesmo amor que você sente por mim, não sabia o que iria ser da nossa amizade...
– Tabom Mari... então, o que vai ser?
– Estou disposta a ser qualquer coisa... -Afirmou Mariana.
– Hora do primeiro beijo? -Vi riu.
Mari sem explicação alguma, o beijou. Foram para a festa, se divertiram, riram, dançaram, beberam, zuaram, se amaram, se beijaram, correram, pularam, choraram... Foi uma noite maravilhosa, e com certeza, inesquecível.
Ao caminho de casa, Mari ainda achava que era um snho. Ela nunca imaginou que Victor, seu melhor amigo, pudesse amá-la de tal forma. Chegando em casa, Vi a beijou na testa e disse:
– Boa noite minha vida! Até amanhã, eu te amo. -e saiu.
– Eu também te amo!
Mari foi direeto para a cama, e dormiu até duas horas da tarde do outro dia. Sem nem pensar, pegou o celular e ligou para  "Coração" -como dizia em sua agenda telefônica- mas ele não atendia. Ela insitia, e nada de "Coração". Então lembrou que haviam marcado de ir ao cinema, às quatro horas. Correu, se arrumou, e foi.
Para sua surpresa, Victor não estava lá. Esperou, esperou e esperou. Deu seis horas e nada de Victor. Ligava, e ele não atendia. Voltou para casa, triste, e se trancou no quarto. Mandou uma mensagem para Vi que dizia: "Olá coração, acordei, te liguei, não atendeu. Fui ao cinema, não apareceu. Agora estou em casa, e quero você" Me liga. XoXo, M."
Segunda-feira, dia de aula. Mari foi para a escola esperando encontrar Victor e pedir explicações, porque eles ainda não haviam se falado desde então. A manhã passou que nem vento, e Victor não tinha ido à aula. Preocupada, Mari ligou novamente, e nem chamou, foi direto para caixa postal. Ligou na casa dele, e ninguém atendia. Mandou uma nova mensagem: "Coração, onde está você? Eu não viver sem suas batidas. Antes eu queria você, agora é diferente, eu preciso! Por favor me liga. XoXo, M."

Mariana ao chegar em casa, nem almoçou, não comeu nada. Foi direto para o quarto, ligou o som no máximo, e deitou-se na cama. De inesperado, e para sua depressão total, estava tocando a música deles, "Paramore - The Only Exception". Ela chorava cantando, e cantava chorando. Tinha que ter um porque. Victor não poderia sumir sem explicações.

Passou a tarde inteira trancada no quarto. Ligava para Victor e ele não atendia. Isso a deixou com tanta, mas tanta raiva, que ela quase se matou. Era um sentimento estranho0, que ela nunca havia sentido em momentos anteriores. Encomodava. Pegou no sono sem ao menos perceber. Acordava de madrugada para checar o celular, e nada.

Terça-feira, dia depressivo, onde Mariana falta à escola. Acordou as dez horas, e sem pensar, novamente mandou uma mensagem: "Poxa Coração, eu já não consigo sonhar. Não sei quem eu sou, estou caido, cadê você para me segurar? XoXo, M.". Mariana já não fazia nada, a vida dela estava sem sentido. Precisava comer, mas não queria. Foi tomar então, um banho frio para distrair seus pensamentos. Deitou no chão do quarto e começou a lembrar dos tempos que passou com Victor. Então chorou. Chorou, chorou. Ela não podia viver ali, ficar ali, respirar ali. Precisava de um lugar novo. 

Quarta-feira, hora melancólica das cinco e meia, quando chove. Pelo menos o metrô lhe parecia um progresso no meio dos tempos decadentes. Mariana não resistiu a mandar uma outra mensagem: "Victor, estou a procura de um outro coração. Eu te dei o meu, e você não cuidou. Ele parou de bater, e morreu. Nunca mais me procure. Mas se algum dia, me achar, devolva meu coração, e peça perdão pelo que fez. Eu ainda te amo. XoXo, M."